Polícia francesa acaba com acampamento de imigrantes

Poucos dias após a repercussão do salvamento realizado pelo imigrante malês Mamoudou Gassama, que lhe rendeu a cidadania francesa, um acampamento com cerca de 2 mil imigrantes foi desmantelado ao norte da França, segundo informações da agência de notícias RFI. Isso mostra um pouco do posicionamento um tanto contraditório do presidente Emmanuel Macron no que diz respeito ao tema.

Se, por um lado, usou o ato heroico de Gassama para promover uma imagem empática entre os franceses, por outro, não poupou os refugiados do acampamento. Com uma operação que teve início às 6h da manhã, caminhões retiraram todas as barraca e utensílios, enquanto que os ocupantes foram deslocados para abrigos, ginásios, entre outros espaços.

Essa foi a 35ª operação nos últimos três anos. Autoridades declararam que os imigrantes em situação legal terão a documentação analisada, mas não deram mais detalhes sobre aqueles considerados “clandestinos”, que devem ser expulsos do país. Um projeto de lei em andamento deve tornar mais rígidas as regras sobre abrigo e imigração.

Das 2 mil pessoas retiradas, que vieram em sua maioria do Sudão, Somália e Eritreia, há espaço para apenas 500 na região de Paris. As outras em condição legal devem ser deslocadas a outras cidades. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, há 64 pessoas vulneráveis, entre idosos, mulheres e crianças.

Os sentimentos são variados entre os imigrantes. Parte deles se mostra preocupada pela possibilidade de expulsão, enquanto outros já não suportavam a situação de precariedade enfrentada no acampamento. Além disso, com o anúncio da intervenção que seria realizada no local, muitos fugiram por medo do que aconteceria.

O acampamento próximo ao bairro de La Villete não deve ser o último: ainda segundo informações da RFI, outros dois pontos na região nordeste de Paris devem ser desmantelados nas próximas semanas, o que ocasionará o despejo de cerca de 800 pessoas.

A situação da cidade tem provocado um impasse político entre o governo francês e a prefeitura. Macron criticou diversas vezes a posição de “inércia” da instância municipal, que se defende afirmando que necessita do suporte do governo.

Heroísmo midiático

O posicionamento de Macron diante da questão da imigração parece apontar que somente por meio de um ato de heroísmo a estadia é garantida na França. Ao escalar 4 andares de um prédio para salvar uma criança, Gassama passou a ser considerado o “homem-aranha” francês ao colocar a própria vida em perigo. Tal situação limite exige uma coragem sobre-humana, que certamente não pode ser alcançada pelos 2 mil imigrantes deslocados do acampamento de Paris na manhã de hoje.

Em fevereiro, centenas de pessoas protestaram contra o texto da nova lei de imigração, que trataria os ingressantes como criminosos. Atualmente, aqueles que têm o pedido de residência negado podem recorrer em até 30 dias, período que será reduzido para 15 dias. A retenção do imigrante pelas autoridades francesas passará de 45 para 90 dias, outra proposta contestada por grupos contrários ao enrijecimento da lei. Em 2017, a França acolheu cerca de 43 mil refugiados, entre 100 mil pedidos, e expulsou outros 15 mil.

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