Preparador brasileiro se destaca no exterior e lembra parceria com Maradona: ‘ser humano incrível’

Desde 2008 trabalhando nos Emirados Árabes, o preparador físico Beto Leandro, atualmente no Fujairah FC, tem seu trabalho consolidado no futebol árabe.

Em entrevista EXCLUSIVA para o Rede Bom Dia, Beto falou sobre seu trabalho, relembrando também a parceria que teve com Diego Armando Maradona. Os dois trabalharam na mesma comissão técnica até o início deste ano. Confira:

REDE BOM DIA: Como foi sua experiência de trabalhar ao lado do Maradona? Qual curiosidade ou fato inusitado que você poderia contar ao lado dele?

BETO LEANDRO: Muitas pessoas me fazem esta pergunta: Todos nós sabemos que Maradona sempre será um mito no futebol e como pessoa é incrível, de uma simplicidade e humildade fora do comum, difícil até de imaginar. Ele é um ser humano capaz de tirar a própria roupa do corpo para ajudar ao próximo. Aberto ao diálogo, aceita opiniões dentro do trabalho no dia a dia e também é muito participativo.  Em um ano de trabalho e convívio tive vários momentos e experiências com “Dom Dieguito“, mas duas curiosidades que me chamaram atenção e me deixaram emocionado, aconteceram em 2 jogos pela liga da “ Segunda Divisão “ que disputávamos na temporada passada 2017/2018: Jogo fora de casa contra a equipe do Korfakan e vencíamos por 2 x 0. No segundo tempo um jogador adversário foi pressionar em uma jogada na lateral do campo em nossa defesa, junto a técnica do nosso banco. Em um movimento rápido, tentando chegar em uma bola, escorregou abrindo muito a perna e caiu de maneira errada no gramado. Já gritando de dor, Maradona não pensou duas vezes. Entrou em campo sem autorização do árbitro para ajudar o jogador que estava se contorcendo de dor, caído em campo e sem saber falar Inglês. Maradona ficava dando apoio ao jogador até a chegada da equipe médica e assim que o jogador se levantou para sair de campo, já que precisou ser substituído devido a lesão, foi amparado por Maradona até o banco de reservas da sua equipe, servindo de apoio, pois o jogador não conseguia botar o pé no chão. As pessoas que estavam no estádio aplaudiram de pé a sua atitude. Uma outra situação foi em um jogo em nosso estádio contra a equipe do “Dibba Hussain”. Estávamos invictos e começamos o jogo perdendo no primeiro tempo por 1 x 0. Logo no início da segunda etapa, o adversário fez 2 x 0, mas nosso time reagiu e empatamos em 2 x 2 . Crescemos no jogo tentando a vitória, então vieram os acréscimos, e o árbitro deu 9 minutos devido uma série de situações ocorridas durante o segundo tempo, até mesmo expulsão e análise de VAR. Aos 53 minutos, veio um pênalti que foi analisado pelo VAR. Foi aquela festa no estadio antes mesmo da cobrança. Nosso cobrador oficial tinha sido substituído por lesão, e dois jogadores queriam fazer a cobrança. Um deles pegou a bola colocou na marca do pênalti. Maradona se ajoelhou na área técnica e veio a cobrança no último lance do jogo. Nosso jogador não cobrou bem, jogando a bola muito longe do gol. Foi aquela tristeza no estádio e o cobrador, Mohamed Khalfan, caiu no gramado em prantos chorando. Maradona, mesmo triste, caminhou até o nosso jogador, que estava caído e o abraçou. Mohamed estava aos prantos, chorando copiosamente. Solidário ao jogador, Maradona não ficou só ali com ele, mas o levou até nossa torcida para que recebesse o apoio de todos no estádio. Já no vestiário, ele ficou sentado junto do jogador até que ele se recuperasse.  Existem outras curiosidades, mas prefiro guardar para mim por respeito e admiração ao Maradona. São imagens e fatos positivos que não se apagaram da minha memória. Faz eu ser muito mais fã desse gênio do futebol e grande ser humano.

REDE BOM DIA: Como o jogador brasileiro é visto no mundo árabe?

BETO LEANDRO: O jogador brasileiro aqui no mundo Árabe, em especial nos “Emirados Árabes”, é muito bem visto pela sua forma de atuar em campo, jogando futebol, e também pelo jeito descontraído. Jogador brasileiro faz amizade rápido, mantém um bom relacionamento com jogadores “locais“. São considerados craques, gênios pela visão de jogo, habilidade e agilidade dentro de uma partida. Só que alguns jogadores chegam aqui acabam se deslumbrando por estar em um país de “primeiro mundo”. Acabam não rendendo o suficiente para ter uma boa sequência de jogos. Outros se destacam e conseguem ficar por muito tempo  aqui, já que se adaptam ao país e seu futebol. No clube em que trabalho temos dois jogadores brasileiros: Ronaldo Mendes (ex Santos) e Fernando Gabriel (ex Santa Cruz). Ambos estão muito bem adaptados, tanto ao país, como ao futebol local.

REDE BOM DIA: Você não trabalhou por muito tempo no futebol brasileiro. Como enxerga a preparação física no país, e quem você acha que se destaca?

BETO LEANDRO: Sou brasileiro de coração, mesmo estando fora por muitos anos. Vejo o crescimento da preparação física no futebol Brasileiro muito acelerado, e de forma direcionada. O profissional brasileiro tem o dom do improviso, trabalha muito a prática. O europeu, na minha opinião, mesmo tendo muito conhecimento, trabalha em cima de teorias. São mais limitados, mesmo tendo alguns clubes com ótimos profissionais. Procuro não abrir mão do estilo brasileiro de trabalhar. São muitos profissionais bons no mercado brasileiro. Procuro observar alguns profissionais, acompanho o trabalho mesmo distante, mas prefiro não citar nomes.

REDE BOM DIA: Você tem o desejo de retornar ao Brasil? Qual seu próximo objetivo profissional?

BETO LEANDRO: Não me vejo trabalhando no Brasil tão cedo. Sabemos que o mercado lá é muito difícil, já que os clubes, quando contratam treinadores, normalmente ele leva sua comissão técnica junto, com todos os profissionais. Meu objetivo profissional é continuar trabalhando na Asia.

REDE BOM DIA: Você aceitaria trabalhar na seleção do país que você trabalha?

BETO LEANDRO: Com certeza! Se algum dia eu receber um convite da federação dos UAE, aceitaria com o maior prazer. Conheço muito bem a característica dos jogadores locais.

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Foto: Divulgação 

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